segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Do começo ao fim



N’um dia de calor e longe de casa descobri o acaso junto ao começo de um fim.

Jamais acreditei em destino e esse, se existe, nunca se mostrou para mim. Já o acaso eu o ouvi pouco mais de um ano atrás. E foi n’um dia de calor, em uma dessas cidades onde tudo vira historia e quase tudo é historia, e o acaso era só mais um fato num boca-a-boca sem fim. Dia 18 ou talvez 19 de um mês qualquer de um ano como os outros, e eu estava ali, no começo de um fim. Fim o qual eu jamais pensei que fosse começar – mas começou. Começou com um som de vidro entrando em contato com o chão e partindo-se em pedaços – como minha atenção naquele momento: era um pedaço para cá e outro para lá. E em meio a risos estranhos e um certo grito indecifrável o acaso apareceu, mas eu ainda não pude o conhecer naquele momento: só ouvi. Ouvi e não guardei seu nome e nem tão pouco o som do grito, mas um pedaço do vidro quebrado tinha ficado comigo, e eu, sem muito saber, o carreguei comigo até o fim de um passado-começo que não foi por acaso. Entre dias que passavam como outros quaisquer e horas que só eram notadas por cada pôr-do-sol estava eu: e sem o acaso. Em um dia de sol-nascente-estranho me peguei dentro de um passaro de metal, chamado avião, como que por um acaso e lá estava eu novamente, em um lugar onde o mar-é-de-gente e são tantas as ruas nesse lugar que mais parecem veias cheias de um sangue com cor-de-automovel. Me encontrei em um lugar estranho, cheio de arvores ao redor de uma casa pequena e com uma pintura antiga cheia de mofo. E me coloquei deitado em uma cama ao som de ventos que migram do norte, sul, leste e oeste, sem avisar de que lado estão vindo e os mesmos trazem lembretes-de-lembranças onde eu encontro o pedaço do vidro quebrado e o som do sorriso. Os olhos fechados como se fossem dormir sem me avisar já me deixam desenhar, em um fundo escuro, o rosto do acaso. Os olhos fechados me remetem a lembranças de uma tal vida, de um tal rumo e só o que eu quero é o rumo-sem-rumo do acaso. E esses olhos foram os mesmos que esperaram impacientemente durante noites de pinturas em fundos escuros e dias em que o sol nasceu com um amarelo embaçado que atravessava minha janela meio-tímido. Olhos que sem fazer promessa para o acaso disse em tom-de-silencio: É por acaso e sem o destino que meus olhos estão de frente os seus, e é sem o acaso e nem tão pouco o destino que te quero em minha vida sem um “pra sempre”, mas quero-te do começo ao fim.

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